Os incisivos influxos no  itinerário espiritual de Santa Teresinha

                                                                                                                                      Ir. Cecília Tada, cmst

Através dos escritos de Teresa de Lisieux é possível entrever que a Santa deixou-se guiar no início de seu  itinerário espiritual por São João da Cruz, deixando-se posteriormente nutrir  sua fé, esperança e caridade nas Sagradas Escrituras, sobretudo o Evangelho. Ela mesma afirma: “Ah! quantas luzes encontrei nas obras do Nosso Pai são João da Cruz!… Aos 17 e 18 anos não tinha outro alimento espiritual, depois, todos os livros deixaram-me na aridez” (Ms A, 83f).

Teresa sonhou com o Carmelo. Sabia que Jesus a chamava àquele “deserto”. Neste deserto como ela mesma afirma, se adentrou no caminho do amor, servindo-se de um guia para percorrer o itinerário espiritual que desejava avançar. Nos seus manuscritos, de fato, faz transbordar a doutrina de São João da Cruz, o Doutor do Amor.

“Ó meu Jesus! amo-Te, amo a Igreja, minha Mãe, lembro-me de que: “O menor movimento de puro amor lhe é mais útil que todas as outras obras reunidas” (Ms B 4 f).

No Carmelo, Teresa teve que encontrar a sua estrada pessoal, “uma pequena via totalmente nova” (Ms C 2v), que ela teria percorrido em primeira pessoa. Dá passos largos com o mestre João da Cruz, para alçar o seu voo e encontrar o seu amado nas Sagradas Escrituras, sobretudo nos Evangelhos. Em uma época marcada pelo jansenismo, em que o acento era colocado sobre Deus, justo juiz, e sobre o esforço pessoal para assegurar a salvação com as boas obras, evitando o pecado que a rodeava por todos os lados, Teresa desenvolve um olhar libertador sobre o amor misericordioso de Deus.

 Ela levou mais de sete anos para compreender que amar em profundidade, como ela concebia, não era possível realizar com as próprias forças. Jesus, somente Ele, podia dar-lhe Jesus. E ela o encontra na Palavra como afirma: “Quando abro um livro composto por um autor espiritual (até o mais bonito, o mais emocionante), sinto logo meu coração apertar-se e leio-o sem, por assim dizer, compreender ou, se compreendo, meu espírito pára sem poder meditar… Nesses momentos, a Sagrada Escritura e a Imitação vêm socorrer-me; nelas encontro um alimento sólido e totalmente puro. Mas é sobretudo o Evangelho, que me sustenta nas minhas orações; nele encontro tudo o que é necessário para minha pobre alminha. Sempre descubro novas luzes, sentidos ocultos e misteriosos…”(Ms A, 83f-v).

Com  humildade e  caridade,  fé e  esperança, Teresa entra continuamente no coração da Sagrada Escritura que encerra o Mistério de Cristo, e esta leitura da Bíblia alimentada pela ciência do amor que não se opõe à ciência acadêmica, segundo Teresa é a ciência mais nobre.

No Evangelho, Teresa descobre a Misericórdia de Jesus: “A mim Ele deu a sua Misericórdia infinita, através dela contemplo e adoro as outras perfeições divinas ! (...) Então todas me parecem resplandecentes de amor, a própria Justiça (e talvez ainda mais do que qualquer outra) me parece revestida de amor” (Ms A, 84v).

A esta “pequena via de confiança e de amor” da infância espiritual (Ms C, 2v-3f: C 226) ela chega somente através de muita reflexão, perguntas, tomada de consciência e decisões, muita escuta orante do seu Senhor, encontrando um modo pessoal de realizar a sua vocação cristã e contemplativa na Igreja.

A partir de um desejo veemente de despojamento total e humildade, avivado pela humilhante enfermidade de seu pai e a dolorosa experiência de sua debilidade e impotência; transformada pela contemplação dos tesouros escondidos na Santa Face, Teresa chega a empobrecer-se dentro da mais pura doutrina carmelitana, algo ignorada em seu próprio convento. Tanto para cada cristão quanto para a Igreja inteira, também no momento atual, o caminho de Teresa no deserto, à busca de uma fonte escondida e guiada pela confiança que a leva ao total abandono em Deus, permanecerá profético.